segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A máquina de fazer espanhóis


"A máquina de fazer espanhóis" é o título de um livro incrível que li. O autor, até então desconhecido por mim, é o Valter Hugo Mãe - o nome é engraçado e o cara é angolano. Mas porque o livro mereceu um post? Bom, o achei surpreendente. Um amigo me emprestou e, apesar de adorar a edição - a capa é uma pintura e a qualidade do material impressiona -, fiquei receosa sobre a história.

O livro é narrado pelo Antônio Silva, um dos muitos Silvas do mundo, que, após perder sua mulher, é levado a um asilo e a partir daí divide sua realidade conosco. Nada demais, seus sentimentos são os mais humanos possíveis - nada idealizado - e sua vida foi pacata e normal. Talvez esse seja o grande trunfo: o realismo. Apesar disso, nem tudo é tristeza, mesmo o ambiente e o período sendo áridos, ele consegue encontrar alegria em pequenas coisas e comprova a validade da vida humana. O desenrolar da história se torna emocionante e reflexivo, quase uma montanha russa de sentimentos.

Além disso, tem uma parte histórica sobre Portugal e referências ao franquismo - assunto pouco discutido né? Também, há muita crítica social. Devo ainda citar que, no melhor estilo Saramago, não há pontuação correta no livro. Isto é, não existem maiúsculas, travessões, parágrafos ou interrogações. Achei que isso colaborou para tornar a leitura mais livre e prender a atenção do leitor. Não quis contar muito sobre o enredo - ele deve ser surpreendedor, mas separei algumas citações que gostei para vocês terem uma ideia. Fica a indicação do livro!

"não era nada esperada aquela constatação de que a família também vinha de fora do sangue, de fora do amor ou que o amor podia ser outra coisa, como uma energia entre as pessoas, indistintamente um respeito e um cuidado pelas pessoas todas"


"... e eu acabava de aprender que a vida tem de ser mais à deriva, mais ao acaso, porque quem se guarda de tudo, foge de tudo"



"senhor silva, não seja tolo, que eles aqui ficam também à espera que não pensemos, mas se deixarmos de pensar, estamos enterrados"



"estamos como que sozinhos de maneira errada. mais sozinhos do que nunca, a ver a coisa passar sem sabermos muito bem em quem confiar"



"é um casamento perfeito. o político que gosta dos pobrezinhos e os mantêm pobrezinhos com a igreja que gosta dos pobrezinhos e os mantêm pobrezinhos... não é brilhante isso inventado seria mentira. ninguém teria cabeça de inventar tal porcaria só sendo verdade mesmo"



Por Julia Cruvinel

2 comentários:

  1. E o blog tá que tá, hein? Parabéns. Julia, cê escreve bem pra burro (não resisti ao trocadilho).

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